sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Crônicas do Tribuna

Oi pessoal, as quatro próximas crônicas foram veiculadas no Jornal Tribuna de Uruguaiana. A pedidos de amigos que moram longe, coloco aqui os textos na íntegra. Se quiser acompanhar o Jornal Tribuna online, visite o blog: http://tribunadeuruguaiana.blogspot.com/

Démodé

Sites de relacionamento como Orkut, Facebook, Twitter, além do Messenger e Skype foram criados para facilitar a comunicação entre as pessoas, conectá-las ao redor do mundo. Assim que surgiu o Orkut, que pegou de forma gigantesca no Brasil, eu tratei de fazer minha conta, colocar minhas fotos, achar amigos e comunidades e aprender a mexer no site, que era novo por aqui no início dos anos 2000. Foi o máximo quando encontrei uma amiga de infância que se mudou há muitos anos para outra cidade, pulei de alegria ao reencontrar a amiga da praia que não via desde criança.

E assim, fui empolgando com o esquema, colocando mais e mais fotos, muitas palavras e frases chamativas no perfil e somando mais e mais amigos. Até que um dia uma pessoa pede para ser minha amiga no Orkut, e é a minha mãe. Pronto. O Orkut dominara o mundo, ou pelo menos o Brasil. Meus amigos de estágio, faculdade, academia, balada, todos estavam no site, foi uma alegria só reencontrá-los naquele espaço.

Porém, quando tomar chimarrão com a Rafa foi substituído por alguns recados no Orkut com a mesma, quando conversar com a Lilian pelo Messenger no lugar de bater papo no Parque Farroupilha com ela, quando comecei a encontrar a Laís apenas no Messenger, comecei a perceber que a internet estava me afastando de amigos, principalmente os que moravam na mesma cidade que eu. Além disso, lembrei do que minha mãe dissera durante suas primeiras acessadas no Orkut: “Tudo me pareceu tão falso”.

Nos álbuns das pessoas, se via apenas elas felizes em viagens, em momentos românticos com seus maridos ou esposas, arrasando nas baladas, etc. Por que não colocavam fotos quando a maquiagem já estava borrada no final da festa, ou a foto do salto do sapato que quebrou no casamento da prima. Ou ainda, a foto no dia que acordou cheia de olheiras? O pior foi perceber que mesmo contabilizando mais de 800 amigos no Orkut e 200 no Messenger, eu me sentia, muitas vezes, sozinha. Quem vai naquele show de rock comigo esta noite? O pneu do carro furou, qual dos meus amigos do Orkut poderá me ajudar? Estou angustiada com a prova da faculdade de amanhã, algum amigo do Messenger pode fazer um cafuné?

Não, porque eles estão muito ocupados pensando numa frase de impacto para seus perfis no Orkut, ou ainda, o que escrever ao lado de seus nomes no Messenger. Enquanto apenas quero o démodé abraço real – não aqueles dos bonequinhos animados do Orkut -, uma agradável companhia para tomar um sorvete ou ouvir uma boa e sonora risada de um amigo por perto.

Governo Yeda pelos ares

O Governo Yeda parece estar num clima de vôo 447 da Air France minutos antes de cair no Oceano. Deu uma pane num equipamento importante do avião, e Yeda e seu co-piloto, Feijó não se entendem, nem nunca se entenderam. Os comissários de vôo, amigos do piloto, são acusados de serem oportunistas. Os passageiros, que compraram a passagem devido à boa fama da companhia aérea, dos bons preços ou pela popularidade da mesma, espera apenas chegar em boas condições ao seu destino.

De repente o avião começa a ter pequenas turbulências, uma criança que está a bordo fecha os olhos para não ver o que está por vir. Os passageiros passam a sentir medo depois que as luzes do avião puseram-se a piscar freneticamente. Na verdade, piloto, co-piloto, comissários e operadores de vôo sabem dos problemas que estão acontecendo, mas não se comunicam com os passageiros.Os passageiros seguem sem entender se piloto e co-piloto estão brigando aos tapas na cabine, devido à instabilidade da viagem e se os comissários são pessoas confiáveis. Lá embaixo, o Oceano escuro reflete a noite em tempestade.

Raios e trovoadas conferem aos passageiros uma sensação de descrença, desinformação e desordem. Mesmo assim, os comissários falam que está tudo bem, que é para manterem a calma e crer que tudo se ajeitará.Os passageiros estão pouco se lixando se a equipe responsável pelo vôo 447 tem uma boa relação, pouco lhes interessa quanto ganham ou se traem uns aos outros. Os passageiros pagaram e querem receber um bom serviço. Desejam que o vôo siga seu rumo com firmeza, foco e bom tempo.

De repente, uma comissária aparece correndo pelo corredor do avião anunciando em tom de justiceiro que o valor da passagem, que já fora pago pelos passageiros, era alto devido a um esquema ilícito de superfaturamento. E mesmo não apresentando provas, consegue aliados que querem a cabeça do co-piloto. E vira uma bagunça. Neste instante, não é apenas o Airbus A 330 que está desgovernado. Comissários e passageiros brigam física e verbalmente.

Mas a maioria dos passageiros ainda pensa em chegar com vida num lugar melhor. O resto, para eles, é picuinha.

Passeando pelo Pelourinho

Após visitar o Mercado Modelo em Salvador, onde encontrei uma enorme diversidade de artesanato baiano, bolsas, quadros, enfeites para a casa, panos de prato, vestidos, cocada e chaveiros com fitinhas do Senhor do Bomfim, atravesso a rua para pegar o famoso Elevador Lacerda. Pago uma taxa simbólica de cinco centavos e paro atras da última pessoa da fila para entrar em um do dois elevadores de 72 metros de altura que ligam a Cidade Baixa da Cidade Alta, onde fica o Pelourinho – o mais antigo e famoso bairro da cidade. Logo que chego na parte de cima, avisto a Praça da Sé e vejo prédios antigos, muitos precisando de uma boa pintura.

Vendedores ambulantes oferecem insistentemente seus produtos, são colares e chaveiros. Um menino moreno chega perto de mim e coloca uma fita do Senhor do Bomfim no meu pulso, em troca ele quer qualquer quantia em dinheiro. E assim como ele, há vários por lá. Há poucos metros dali vejo a cidade lá embaixo, o trânsito intenso, o mercado com suas bancas de artesanato em frente, e a Baía de Todos os Santos, com uma cor azul esverdeada, imagem digna de um cartão postal. Barquinhos, o prédio bem conservado da Marinha, e muitas pessoas transitando lá embaixo na Praça Cayru. Ao meu lado está a Cruz Caída, monumento conhecido na capital baiana. Ela foi instalada no lugar onde existia uma igreja em ruínas. Quando a igreja foi retirada para reformar a Praça da Sé, foram encontrados ossos no local. Um menino que estava perto de mim explica que logo a minha frente numa espécie de canteiro haviam muitos ossos antigamente. Mesmo estando há pouco minutos no local, já dá para sentir seu valor histórico e impactante.

Mas a visita ao Pelourinho está apenas começando. Caminho um pouco mais sobre os paralelepípedos e ladeiras de ruas estreitas ao som de MPB, pois há diversas lojas de venda de CDs e instrumentos que ligam suas caixas de som num volume agradável colaborando para a contextualização do local, bem brasileiro. Além dessas lojas, há outras de artesanato baiano, roupas, artesanato indiano, restaurantes, bares, agências de turismo e papelarias. A arquitetura barroco-portuguesa, com cores fortes e diversificadas encanta os inúmeros turistas, que encontra a cada cinco minutos, uma igreja, muitas com arquitetura barroca e imponente. As baianas com suas vestimentas tradicionais convidam para uma foto, paga, é claro.Sento numa sorveteria de origem francesa próxima a outros turistas. E ao descansar da caminhada abaixo de um sol de 27 graus em pleno inverno soteropolitano, leio um guia de turismo de Salvador e deparo-me com a história do Pelourinho. Nele diz que este foi o primeiro bairro de Salvador, a primeira capital do Brasil, ou seja, onde tudo começou em nosso país. A palavra “pelourinho” identificava o lugar dos engenhos reservados para castigar os escravos. Tudo muito didático, porém necessário para entender aquele local histórico e cheio de cultura ainda viva , mesmo após 1549, quando Salvador foi fundada por Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil.

Dia dos Avós

Amanhã (26 de julho) é comemorado o Dia dos Avós, eu de avó não posso reclamar, tenho três. A vó Circe, a vó Nara e a bisavó Nena. A última comemorou 92 anos a pouco tempo e a Circe 81 nesta semana. Elas são muito diferentes entre si, a Nara, a mais nova, é desbocada, meio rebelde, foi criada no campo no meio dos irmãos, gostava da vida campeira e, mesmo que hoje more na cidade, gosta de levar uma vida simples, tranqüila, adora jogar canastra e fazer pastelão de frango, que é uma delícia. A Circe tem muita energia assim como a Nara, adora cachorros e caminha com o seu todos os dias pela quadra da sua casa. No trajeto, conversa com a vizinhança, mexe com as pessoas, alegra o ambiente, com seu jeito expansivo e vivacidade italiana. Mas é cabeça dura que dói, quando não quer algo, não há ninguém no mundo que a convença o contrário. Ano passado a família queria fazer festa de 80 anos para ela e convidar todos os parentes espalhados pelo Brasil. Dona Circe escapou fininho para Buenos Aires e mandou longe quem comentasse da suposta festa a ela. A Nena me pegou no colo quando eu era bebê, hoje eu que pego ela. A filha dela, a Nara, cuida dela o dia todo. Embora se esqueça às vezes de acontecimentos recentes e não tenha mais tanta força nas pernas, ela está em ótimo estado. Um dia eu estava sentada ao lado dela e fiquei puxando papo, ela gostou muito da atenção dada a sua pessoa e história. Foi até o quarto e pegou um álbum de fotografia e mostrou a mim seus pais e seu marido que já faleceu há mais de 25 anos. Quando mostrou as fotos do meu bisavô parecia uma menina, seus olhos brilharam e apontava para a foto toda orgulhosa e empolgada ao rever o seu amado.Uma característica as três têm em comum: Adoram me encher de comida, oferta esta que recebo muito bem. São mousses, tortas de bolacha, pizzas, doce de leite feito em casa, chás, chocolate quente. Não tem como passar fome com as vovós. É a forma de mostrar seu carinho pela gente, e eu retribuo o carinho comendo tudo que elas preparam com prazer e escrevendo sobre elas quando com afeto.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Século XXI

Salivas, mãos em lugares inesperados, beijos gostosos

Sedução, olhares sedentos, palavras e elogios

A oferta e a procura são grandes

Tudo tão barato como um sonrisal


Músculos, bundas, seios e braços

cabelos, olhos, curvas e beleza

A oferta e a procura são grandes

Tudo tão fácil como o jogo da velha


Carinho, cumplicidade, diálogo

Compreensão, tolerância e admiração

A oferta e a procura são pequenas

Tão caros como uma Ferrari


Fidelidade, sintonia e companheirismo

Amizade, entrega e cavalheirismo

A oferta e a procura são pequenas

Tão raros como um diamante