domingo, 28 de junho de 2009

A Revanche Suína


- Cof cof cof.

- Priscila, depois que tu parar de tossir pode vir aqui no balcão assinar o papel – disse a secretária no consultório. E ao dizer, a moça encolheu-se toda atrás do balcão.
Eu, que estava do outro lado da sala, tossindo até ficar vermelha, entendi o recado. A secretária estava com medo de pegar a gripe, vai que seja a Gripe A.
Na realidade essa gripe suína, quer dizer nova gripe, ou gripe A, e para os mais estudados, Influenza A (H1N1) é, para mim muito confusa. A começar pelos sintomas que são parecidos com os de uma forte gripe: tosse, febre, cansaço, dor de garganta, dor de cabeça. E o contágio então, é algo quase inevitável, através de partículas de espirros e tosses pelo ar.
Ao perceber o pânico geral que a doença causa, lembrei daquele livro que virou filme “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. Na película, as pessoas ficavam cegas de uma hora para outra. E as autoridades vão amontoando todos os novos cegos numa espécie de alojamento abandonado. Fiquei imaginando todos os gripados passando pela mesma situação. Confesso que tenho medo da nova gripe, mas me parece que não há muita forma de controlar a sua transmissão, quando é só alguém dar um espirro que já posso estar em risco.
Cancelaram aulas nos colégios e universidades e adiantaram as férias de trabalhadores, porém há de se convir que é muito difícil fugir do contato humano. Até pensei em pegar minha barraca, levar uns comes e bebes e passar um tempo isolada em alguma fazenda. Mas lembrei que têm os porcos, que começaram com toda esta muvuca.
A forma que surgiu este vírus – de uma mutação do vírus realizada num porco – é outra questão esquisita desta gripe. Quando que eu ia imaginar que um inofensivo porquinho rosinha, com aquele rabo curvado e nariz tão engraçado iriam passar esta droga de doença para a gente! E o Egito até sacrificou alguns porcos com medo de pegar a gripe. Deixa eles, deve ser a revanche da família que virou presunto no supermercado. É a vingança suína.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Eve

Tu me mostrou o lado sujo do amor

Dois corpos sedentos por prazer se encontraram

Propostas imundas, palavras sem classe, suor e velocidade

24h de tensão, ou seria tesão...

Agressividade na medida certa, risadas, olhares e suspense

Dinheiro, sexo e prazer

Tudo tão fácil como jogar em Las Vegas e perder!

Lucidez

E brincando de gostar de ti

Fui me apaixonando

Fingia não saber

Só queria curtir

E tu fazia todas as minhas vontades

E até parecia que aquilo era normal

E eu nem me importava

Em ser tratada como uma rainha

E de tanto brincar, já não sabia mais o que era realidade e brincadeira

E tu mandava cartas apaixonadas quando viajava

E eu sentia saudades e nem sabia que era tanta

Só soube quando te perdi.

sábado, 20 de junho de 2009

Que nem caranguejo


Eu pensava que só caranguejo andava para atrás, mas com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a necessidade do diploma de jornalismo, vi que o não é apenas o pobre crustáceo que retrocede. Ouvi autoridades falando em criar faculdade de motorista de caminhão de carga no mesmo ano que sai a notícia que meu diploma não vale nada. Isso só pode ser piada. Mas mais bizarro ainda foi o argumento dado pelo relator e presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de que esta decisão visa garantir o exercício pleno das liberdades de expressão. Deu vontade de mandar o Mendes fazer algum curso de dança, teatro, aulas de canto, onde possa se expressar bastante, porque se alguém tem necessidade de se expressar, que o faça, e não será um profissional com diploma que vai fazer alguém parar. Muito pelo contrário, no caso de uma jornalista formada, garanto que seria a primeira a pegar a câmera e filmar Mendes tendo aulas de balé.
Está bem que para ser redator, escrever uma boa crônica, ser um bom âncora de telejornal, precisa-se de algum talento, e até reconheço que tem muita gente praticando jornalismo sem o canudo, mandando muito bem. Se o cara é um baita radialista, comentarista ou repórter sem ter feito faculdade, imagine se tivesse passado por uma. Ele ia falar português melhor, ter uma visão política mais desenvolvida, ia poder se virar em outros meios de comunicação se perdesse o emprego, ia desenvolver a escrita, ia poder coordenar uma redação por conhecer todas as partes do todo. Ia ter um senso crítico mais apurado e uma visão mais ampla do mundo.
Mas Mendes e os outros oito ministros não estão preocupados com qualidade, querem saber é de liberdade de expressão. Sempre ouvi falar que para se ter liberdade é necessário um mínimo de responsabilidade. As duas não se extinguem, e sim se completam no meu ponto de vista. Portanto, não concordo que um diploma tire a liberdade de ninguém de se expressar, muito pelo contrário, se o jornalista formado quer se expressar, vai o fazer da melhor forma possível, contando com ética e técnica.
Foi na minha faculdade de jornalismo que um professor comentou que as autoridades brasileiras não têm a mínima preocupação com a qualidade das informações e o poder educativo da mídia. Para eles, o melhor mesmo é que a população seja alienada, com o forte e imbatível auxílio das novelas e programas de auditório. Enquanto a sociedade assiste Caminho das Índias, os componentes dos Poderes do Brasil ganham dinheiro as nossas custas, aumentam seus próprios salários, inventam leis absurdas, além de acabarem com a dignidade de uma categoria profissional.