segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

"Pais" emprestados


Minha mãe estava solteira com 29 anos. E eu e minha irmã acompanhamos a sua vida de recém-separada desde então.

O primeiro namorado da minha mãe, depois de meu pai, foi um argentino mais novo que ela. Alto, moreno, bonito. Ele e minha mãe faziam um casal jovem e lindo. Minha mãe estava no auge da beleza, morena, alta, corpulenta. E ela ainda usava umas lentes verdes. Ficava ma-ra-vi-lho-sa!

Eu morria de ciúmes, fazia altos escândalos e cenas patéticas quando ele ia lá em casa. Uma vez ele dormiu lá no quartinho da empregada, pois a mãe nos respeitava um monte. E eu fui tirar satisfações com ela. Coitado dele, eu atazanava a vida amorosa deles. Passado uns anos, eles acabaram e foi ai que comecei a gostar mais dele.

Depois a mãe namorou um pai duma colega minha. Ele tinha um pouco mais de idade que ela. Foi bem legal, a gente foi acampar no Uruguai, ele com os filhos dele e a mãe e as filhas dela. Com este eu não tinha ataques de ciúmes porque ele era pai da minha amiga e também porque eu já estava mais crescidinha e minha mãe foi sempre muito discreta na nossa frente.

Eu e minha irmã achavámos graça pois ele tinha cacoete. Quando ele ficava nervoso, (e acho que isso acontecia com freqüência) ele balançava a cabeça freneticamente. Eu fazia que nem via, pois era o pai da minha colega de infância e o novo namorado da minha mãe. Quando estava só eu e a minha irmã debochávamos dele e o imitava para a nossa mãe, que mandava a gente parar com aquelas "bobagens".

O mais figura de todos foi um magricelo de bigode que não sei porque cargas d´água a mãe namorou ele. Todo mundo dizia que ela era muita areia para o caminhãozinho dele, e era mesmo. Ele parecia o Charles Chaplin, magro, baixo, moreno e com bigode. Só que o tamanho dele era o inverso de seu ego. Ele se achava o tal e aquilo tornava-se engraçado. Ele era separado também, tinha dois filhos rebeldes como ele. E era boêmio. Levava a minha mãe para tomar vinho pelos mais requintados restaurantes da cidade. Minha mãe dizia que ele ganhava bem, mas que estava sempre quebrado. A mãe e ele pareciam dois adolescentes, eles brigavam muito. Daí a mãe desligava o interfone e o telefone para ele não encher o nosso saco. Muitas vezes ele me ligava bêbado para falar que queria falar com ela, etc e tal.

Depois a mãe namorou um homem mais velho, com jeito de velho. Ele era todo sério educado. A minha irmã gostava dele e a mãe achava ele um exemplo de gente. Eu não achava lá estas grandes coisas. Ele era viúvo e professor de faculdade. Uma vez ele me deu uma apostila sobre a língua portuguesa bem completa que eu nunca li. Mas o mais divertido era quando sentávamos eu, minha irmã, minha mãe e ele para ver TV. Quando começavam as Vídeo Cassetadas do Faustão ele se matava rindo, soltava uma gargalhada que lhe tirava toda a severidade. Daí eu, minha irmã e minha mãe nos olhávamos e nos matávamos rindo da risada dele. E ele nem notava nada. E quanto mais ele ria, mais a gente ria também.

Hoje em dia a mãe está casada e este não deixa de ser uma figura à parte. Adora truco e a tradição gaudéria. A mãe que nunca gostou nem de música tradicionalista, hoje em dia vai até no acampamento farroupilha. Os dois têm tudo a ver e mesmo que eu não achasse isso eu não ia palpitar, pois o que mais quero é ver a mãe feliz da vida.

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