sábado, 20 de junho de 2009

Que nem caranguejo


Eu pensava que só caranguejo andava para atrás, mas com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a necessidade do diploma de jornalismo, vi que o não é apenas o pobre crustáceo que retrocede. Ouvi autoridades falando em criar faculdade de motorista de caminhão de carga no mesmo ano que sai a notícia que meu diploma não vale nada. Isso só pode ser piada. Mas mais bizarro ainda foi o argumento dado pelo relator e presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de que esta decisão visa garantir o exercício pleno das liberdades de expressão. Deu vontade de mandar o Mendes fazer algum curso de dança, teatro, aulas de canto, onde possa se expressar bastante, porque se alguém tem necessidade de se expressar, que o faça, e não será um profissional com diploma que vai fazer alguém parar. Muito pelo contrário, no caso de uma jornalista formada, garanto que seria a primeira a pegar a câmera e filmar Mendes tendo aulas de balé.
Está bem que para ser redator, escrever uma boa crônica, ser um bom âncora de telejornal, precisa-se de algum talento, e até reconheço que tem muita gente praticando jornalismo sem o canudo, mandando muito bem. Se o cara é um baita radialista, comentarista ou repórter sem ter feito faculdade, imagine se tivesse passado por uma. Ele ia falar português melhor, ter uma visão política mais desenvolvida, ia poder se virar em outros meios de comunicação se perdesse o emprego, ia desenvolver a escrita, ia poder coordenar uma redação por conhecer todas as partes do todo. Ia ter um senso crítico mais apurado e uma visão mais ampla do mundo.
Mas Mendes e os outros oito ministros não estão preocupados com qualidade, querem saber é de liberdade de expressão. Sempre ouvi falar que para se ter liberdade é necessário um mínimo de responsabilidade. As duas não se extinguem, e sim se completam no meu ponto de vista. Portanto, não concordo que um diploma tire a liberdade de ninguém de se expressar, muito pelo contrário, se o jornalista formado quer se expressar, vai o fazer da melhor forma possível, contando com ética e técnica.
Foi na minha faculdade de jornalismo que um professor comentou que as autoridades brasileiras não têm a mínima preocupação com a qualidade das informações e o poder educativo da mídia. Para eles, o melhor mesmo é que a população seja alienada, com o forte e imbatível auxílio das novelas e programas de auditório. Enquanto a sociedade assiste Caminho das Índias, os componentes dos Poderes do Brasil ganham dinheiro as nossas custas, aumentam seus próprios salários, inventam leis absurdas, além de acabarem com a dignidade de uma categoria profissional.



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