sábado, 16 de maio de 2009

Para sempre mãe




Morei seis anos fora de Uruguaiana, me formei em jornalismo e retornei para a fronteira, e voltei a morar com a minha mãe. Fazia muito tempo que não sabia o que era dar satisfações quando chegava tarde de uma festa, não poder escolher a localização dos enfeites da sala, nem abdicar de ir ao supermercado e não escolher, assim, o que comprar. No início eu achava tudo muito estranho, não poder pendurar o espelho grande de madeira envernizada no corredor da casa porque minha mãe decidira que não, ter que ser simpática com a faxineira que ela contratara a meu contragosto. Eu perdera, de fato, meu poder de decisão.



Não era mais uma criança ou adolescente, eram duas mulheres com seus desejos, angústias, memórias, projetos, vitórias e manias frente a frente, vivendo sob o mesmo teto e disputando, de uma certa forma o seu espaço. Na verdade, logo me dei conta que não poderia reinar na casa da minha mãe e notei que no lugar de disputar poder com gente grande era melhor deixar passar, pois eram detalhes pequenos. Eu percebi que ela era a autoridade em casa e eu, uma simples filha.



E passados alguns meses me acostumei rapidíssimo da condição de filha e até aceitei aquele carinho nas costas que ela fazia quando eu era criança e do qual eu tanto gostava. Passei a adorar a faxineira e simpatizar com a marca de pasta de dente que minha mãe comprava. Quando estava preocupada com alguma questão do trabalho e precisando de um abraço, recebia um bem gostoso e cheio de amor da minha mãe.



Sei que nem todas as mães são iguais, umas são mais secas, outras mais melosas, umas mais sérias, outras mais engraçadas. Mas uma característica todas elas têm em comum: Não resistem em exercer o seu papel de mãe. Minha avó, por exemplo, esquece de tomar seu remédio do olho esquerdo frequentemente, mas não esquece de ser mãe. Ela faz o suco preferido do meu tio sempre que ele passa mal do estômago. E prepara do jeito que ele gosta, com uma colher de açúcar cristal. A mãe do meu ex-namorado costurou o terno e deixou-o estendido na cama do quarto dele para que ele tivesse o que vestir na festa. A mãe do meu padrasto percorreu mais de 600 quilômetros para visitá-lo em Uruguaiana e matar a saudade do filho. Tudo isso pelo amor incondicional que todas elas possuem.



Se um dia eu sair da casa da minha mãe, mesmo tendo meu emprego, marido e até meus filhos, eu vou adorar visitá-la e exercer meu papel. Porque elas amam ser eternamente mães, e nós amamos mais ainda sermos filhas.

Nenhum comentário: