sábado, 23 de maio de 2009

Espertinhos


Quando Getúlio Vargas e Agustín P. Justo firmaram tratado no Rio de Janeiro (1934) e depois em Buenos Aires (1935) para a construção da Ponte Internacional com o objetivo de estreitar as relações entre Brasil e Argentina, os então presidentes não imaginavam o tamanho de suas decisões. Ninguém deu conselho a Vargas do gênero:

- O Senhor sabe onde está se metendo? Ou ainda:

- Eu tenho a impressão que argentinos vão lotar nossas praias...

Que nada! Naquela época Vargas estava mais preocupado com os produtos como a madeira, café, couro e arroz que levavam dias para serem transportados a Paso de los Libres através de embarcações.
Não que o trajeto percorrido pelas embarcações fosse muito extenso, mas o grande problema estava relacionado com a logística anterior. As mercadorias chegavam em Uruguaiana de trem, eram descarregadas e logo transferidas aos caminhões. Quando estes chegavam próximo ao rio Uruguai, a mercadoria era transportada de forma braçal até o local das embarcações, onde eram, enfim, carregadas. Chegando do outro lado do rio, repetia-se todo o trajeto, mas desta vez, de modo inverso.
Agustín, em 1935 só pensava na quantidade de trigo, gasolina e óleos minerais exportaria para o Brasil. Não teve um sensato amigo que lhe falasse:

- As mulheres brasileiras vão enlouquecer os argentinos. Ou:

- Buenos Aires fica mais perto de Uruguaiana do que a capital da Província deles.

Getúlio Vargas e Agustín P. Justo estavam deslumbrados, maravilhados, agitados, empolgados, com a criação de um elo concreto entre os dois vizinhos.
Mal sabia Vargas quantas debutantes de Uruguaiana viajariam para a capital argentina em excursões anuais. Nem imaginava os inúmeros vinhos, sorvetes de “dulce de leche”, alfajores, massas, roupas em couro, quilmes, litros de gasolina, torrões, “copitos”, os brasileiros comprariam em Libres. Além das festas nas boates da cidade.
Agustín nem se ligara de quantos argentinos desfrutariam da costa brasileira, como Capão da Canoa, Cassino, Praia do Rosa, Laguna, Bombinhas e para os mais sortudos, Fortaleza, Porto Seguro e Salvador. Nem matutara sobre quantos argentinos conquistariam as donzelas do outro lado com o pronunciar de seu sedutor castelhano: “Hola, que tal”?
As duas autoridades sabiam que era uma boa idéia construir uma ponte, mas o presidente da Argentina, não pensara que as músicas em espanhol iriam cair no gosto dos uruguaianenses. Como iríamos gostar tanto de Chamamé e da cumbia, sem Vargas e Agustín? Como os correntinos iriam apreciar o samba e pagode nas baladas de Uruguaiana sem o projeto deles? Não passava pelas suas caixolas quantas palavras e costumes aprenderíamos com os correntinos e quantos deles prestigiariam nosso carnaval local.
Pois é... 62 anos se passaram desde a inauguração oficial da Ponte Internacional, e o tataraneto de Vargas deve estar tomando seu vinho de Mendoza, enquanto a família Justo programa suas férias no litoral gaúcho.


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